O tabagismo é responsável por cerca de 80% dos óbitos por câncer de pulmão em homens e mulheres no Brasil. A constatação é de estudo apresentada, na 48ª Reunião Anual do Grupo de Epidemiologia e Registro do Câncer em Países de Língua Latina. Porém, o prejuízo causado pelo tabaco não é somente em vidas humanas. Os custos anuais com o tratamento são de aproximadamente R$ 9 bilhões e os impostos pagos pela indústria do setor cobrem aproximadamente 10% desses gastos.
De acordo com o estudo, a previsão é de um aumento de mais de 65% na incidência da doença e de 74% na mortalidade até 2040, caso o padrão de comportamento em relação ao tabaco não seja alterado. O diagnóstico precoce tem sido a melhor medida para aumentar as taxas de sobrevida e os resultados do tratamento.
Apesar de as mulheres apresentarem taxas mais baixas de incidência e de mortalidade do que os homens, espera-se que mulheres com 55 anos ou menos experimentem uma redução na mortalidade por câncer de pulmão apenas do período 2021-2026 em diante; sendo que, para aquelas com 75 anos ou mais, a taxa de mortalidade está prevista para continuar aumentando até o período 2036-2040.
O estudo mostra ainda que só para este ano são estimados 14 mil novos casos de câncer de pulmão em mulheres e 18 mil em homens, conforme projeção do Ministério da Saúde e do Instituto Nacional de Câncer (Inca).
Outro dado preocupante apontado no estudo mostra que os pacientes chegam para o tratamento no estágio mais avançado da doença, tanto na população masculina (63,1%) quanto na feminina (63,9%), padrão que se repete em todas as regiões brasileiras.
Há ainda uma preocupação em relação às estratégias da indústria do tabaco para não perder público — que vem investindo nos chamados "cigarros eletrônicos". Segundo a Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec), quase 3 milhões de adultos usam os chamados "vapes" no Brasil.
Em 24 de abril, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) manteve a proibição dos cigarros eletrônicos, depois de consulta pública. Os cinco diretores da instituição votaram para que a restrição à importação — inclusive para uso próprio e venda desses produtos, em vigor desde 2009, continuasse.
O levantamento da Fundação também revelou que, independentemente da região, a maioria dos pacientes com a doença tinha nível fundamental (77% para homens e 74% para mulheres). E que a maior concentração de pacientes com câncer de pulmão encontra-se na faixa etária entre 40 e 59 anos (74% nos homens e 65% nas mulheres). Esse dado sugere uma possível correlação entre o nível educacional, o acesso aos cuidados de saúde preventivos e ao conhecimento sobre os riscos associados ao tabagismo.