Agência humanitária adventista está empregando esforços para aliviar sofrimento de moradores locais
Por Victor Hugo Flores, ADRA Brasil | Mundo
3 de abril de 2025
Moradores auxiliam na retirada de escombros em uma das regiões afetadas (Foto: Myanmar Fire Services Department)
Em meio ao caos deixado por um terremoto de magnitude 7.7 que sacudiu o coração de Myanmar em 28 de março de 2025, uma corrente de solidariedade emergiu. O epicentro, nas proximidades de Mandalay, provocou ondas de destruição que se estenderam por seis estados e regiões — entre elas, Sagaing, Bago e S. Shan. Mais do que números, a tragédia expôs a vulnerabilidade de milhões de pessoas, mas também revelou a força de uma resposta humanitária coordenada e determinada.
O devastador tremor de terra, com profundidade rasa de apenas 10 quilômetros, agravou seus efeitos e foi sentido em diversos países da Ásia, incluindo China, Índia e Tailândia. As consequências foram imediatas e alarmantes. Dados divulgados nesta quinta-feira mostram que quase 3 mil pessoas perderam a vida e aproximadamente 5 mil ficaram feridas. Estima-se que mais de 6,1 milhões de pessoas tenham sido diretamente expostas ao impacto do desastre, que mobilizou autoridades e equipes humanitárias em uma das maiores operações de resposta dos últimos anos.
Hospitais colapsaram, escolas desabaram e templos históricos foram reduzidos a escombros. A Universidade de Mandalay sofreu um incêndio após o abalo. Famílias inteiras perderam suas casas e passaram a viver em espaços abertos, enfrentando o medo constante de novos tremores. Mais de 40 réplicas foram registradas.
A força de uma resposta coletiva
Em questão de horas, organizações humanitárias locais e internacionais entraram em ação. A Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA), por meio de sua Equipe de Resposta à Emergência (ERT), desempenhou um papel central. Com equipes enviadas para as regiões mais afetadas, a resposta incluiu:
• Avaliação rápida de necessidades (RNA) em Mandalay, Sagaing, Bago e S. Shan;
• Mobilização de voluntários treinados e parceiros comunitários;
• Participação em grupos de trabalho temáticos (saúde, proteção, assistência alimentar, mercado e dinheiro);
• Coordenação direta com a OCHA e outras agências humanitárias;
O foco foi imediato: identificar as necessidades críticas da população e atuar com agilidade.
Diversas localidades ficaram devastadas pelos tremores (Foto: Myanmar Fire Services Department)
Dados de campo: Uma dura realidade
A avaliação feita em 19 vilarejos de S. Shan revelou uma situação alarmante:
• 73% das pessoas estavam em abrigos improvisados;
• Metade das latrinas e sistemas de água estavam danificados;
• Mais de 40% dos atendimentos médicos estavam além da capacidade dos postos de saúde;
• Escolas danificadas e ensino suspenso;
• Grupos vulneráveis expostos a riscos: crianças, idosos e pessoas com deficiência.
A resposta não se limitou à ajuda emergencial. As comunidades foram ouvidas, e suas prioridades guiariam os próximos passos: kits de abrigo, itens de higiene, alimentos e assistência médica.
A humanização da ajuda
A ADRA seguiu protocolos de comunicação que reforçam sua responsabilidade ética. Nenhuma imagem de colaboradores uniformizados ou que possam ser identificados foi utilizada. As mensagens públicas priorizaram a dignidade dos beneficiários, com foco em reconstrução e resiliência. A organização também deixou claro que não realiza operações de busca e resgate: sua missão é humanitária.
Assistência multipropósito em dinheiro
Com o objetivo de respeitar a dignidade e a autonomia das famílias afetadas, foi implementado um programa de Assistência Multipropósito em Dinheiro (MPCA). Cada família recebeu 360.000 MMK (cerca de US$ 137), permitindo que priorizassem suas próprias necessidades.
O plano prevê atender 1.800 famílias em Sagaing, Mandalay e S. Shan, com recursos que ultrapassam 591 milhões de MMK, viabilizados com apoio de parceiros como o BHA, MHF e JPF.
Desafios persistentes
Apesar da agilidade da resposta, a situação ainda apresenta grandes desafios:
• Acesso físico limitado: estradas danificadas, pontes destruídas e áreas com minas terrestres;
• Falta de coordenação centralizada: sobreposição de esforços ou lacunas na assistência;
• Comunicação instável: sinais de telefone e internet intermitentes;
• Escassez de recursos: medicamentos, itens de higiene, alimentos e água potável;
• Risco contínuo de réplicas: que mantém a população em estado de alerta.
Um futuro em reconstrução
Nas próximas semanas, o plano da ADRA avança para a recuperação. A estratégia envolve o fortalecimento dos sistemas locais, capacitação das comunidades e acompanhamento contínuo. O calendário inclui ações de reconstrução, apoio psicoemocional e novas etapas de avaliação.